domingo, 6 de dezembro de 2009

NATAL DOS HOMENS

Todos os anos, Jesus
Feito criança, menino,
Transforma a terra em flor.
E em poucos dias, no mundo,
Os homens vivem unidos,
Falando apenas de amor.

Mas, quando o Natal acaba
E os dias são como os outros
Nas cidades e na serra,
Durante o resto do ano
Os homens já desavindos,
Apenas falam da guerra.

E assim decorrem os anos
Nesta atroz contradição:
_ Os homens, podendo amar-se,
Morrem de armas na mão!...

Autor: João Patrício
in Natal na poesia portuguesa
Selecção Luís Forjaz Trigueiros (dinalivro)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"Escrevo como quem lavra a terra"

CONTRATO

Lavrador da Sesmaria,
senhor de sete condados,
toda a terra que me deste
nessa charneca bravia,
era de rocha escarpada
perdida nos descampados!...

O gume da minha enxada
desbravou terra madrasta
_ que eu tinha a vida atrasada
e cinco filhos pequenos…

Abri fontes e canais
fiz hortejos e pomares.
E agora?! _ O que queres mais
Se não te faltam terrenos?

Invejas a minha sorte
e pensas dobrar a renda?
Não, lavrador, só por morte
me vencerás na contenda.

Lavrador da Sesmaria
tu não consegues tapar
este sol que me alumia
e tanto me faz suar!...

In “Antologia Poética” de Domingos Carvalho
(Edições Margem)