terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O Natal


O Natal de 2008 vai ser vivido com mais intensidade, por todos os que estão em busca da espiritualidade. Como é possível observar, já há muitas pessoas interessadas num desenvolvimento espiritual desvinculado das instituições religiosas. Também se torna importante clarificar que tal desenvolvimento não é apanágio de uns poucos escolhidos com poderes sobrenaturais. A centelha Divina que habita no interior de cada um é a nossa força vital.
Quando pensamos que o Sol nasce todos os dias independentemente das nossas crenças ou convicções tomamos consciência que fazemos parte de um todo mais abrangente e quer queiramos ou não, estamos juntos no Planeta Terra. A época do Natal é um convite à solidariedade, à convivência fraterna. «Puro cinismo» dizem alguns, e eu pergunto a tais pessoas o que elas próprias fazem durante o resto da ano. Procuram recriar o Natal? Proporcionam alegria às crianças, aos idosos e outros grupos carenciados? Provavelmente não o fazem, sentem-se incomodadas por ver fazer e de certa forma tentam desvalorizar as acções realizadas. Para todos os cristãos, no Natal se comemora o nascimento de Jesus, a “LUZ” do Mundo. Por isso, é uma alegria sempre renovada ver a cidade toda iluminda com diferentes cores. Todos os anos acompanho jovens e adultos com necessidades educativas especiais à Baixa de Lisboa, para ver a iluminação de Natal. Encanto, surpresa, admiração, entusiasmo são as emoções mais marcantes em suas faces. Por momentos, como que somos todos absorvidos pelo fascínio da luz. Aquele universo de luz ultrapassa as barreiras neurológicas. Ali não é preciso saber ou conhecer o que quer que seja , apenas usufruir…
Quando voltamos há uma paz a pairar, uma calma e descontração. O efeito relaxante das luzes, acompanhadas das músicas alusivas ao Natal tocam os seus corações e os nossos. Nós que trabalhamos o ano todo com pessoas que dependem absolutamente da nossa intervenção, sabemos o quanto a época do Natal é significativa para eles.

Alcione Scarpin – Jornal “ Serras de Ansião” – Dezembro de 2008

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Todos diferentes, todos iguais.


"Não devem ser seguidos os seguintes raciocínios:

«Eu sou mais rico do que tu , por isso sou superior a ti».
«Sou mais eloquente do que tu, por isso sou superior».

Estes sim, devem ser seguidos:

«Eu sou mais rico do que tu , mas apenas a minha fortuna é maior que a tua».
«Eu sou mais eloquente do que tu, mas só a minha eloquência é superior à tua».

O certo, porém, é que não és, por ti mesmo, nem fortuna nem eloquência."

Do livro A Arte de Viver de Epicteto. Introdução, tradução e notas Carlos de Jesus.

A Carta de Jânio

«_Eu até já vim nos jornais! Estou agora no asilo mas já tive o meu nome nos jornais!
_ Nem mais nem menos. Aqui o compadre Remexido já teve o nome nos jornais. Foi no tempo que o Jânio Quadros foi eleito para presidente do Brasil que o jornal trouxe o nome do meu compadre. Ele achou uma carteira aqui no mercado da terra e não descansou enquanto não encontrou quem a perdeu.
…A história veio publicada nos jornais e Jânio Quadros, que não concedeu entrevista e até passou de fugida por este país atlântico, entretinha-se, anonimamente, a ler os jornais na Praça da Alegria.
E leu a história maravilhosa do compadre Remexido que achando uma carteira recheada, não descansou enquanto não encontrou o seu legítimo possuidor.
_ O presidente escreveu-me! Eu não vejo a letra do tamanho dum burro, mas leram-me a carta tintim por tintim. E o meu nome veio outra vez nos jornais.
_É verdade, sim senhor! A história do presidente Jânio e do meu compadre Remexido veio também nos jornais.»

Do livro Alentejo Marginal de Manuel Geraldo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Dos Filhos


E uma mulher
que trazia um menino ao colo disse:
- Fala-nos das Crianças.

E ele respondeu:

- Os vossos filhos
não são vossos filhos:
são filhos e filhas
do chamamento da própria Vida.

Vêm por vosso meio
mas não de vós;
e apesar de estarem convosco,
não vos pertencem.

Podeis dar-lhes o vosso amor;
mas não os vossos pensamentos:
porque eles têm pensamentos próprios.

Podeis acolher os seus corpos;
mas não as suas almas:
porque as suas almas
habitam a casa de amanhã
que não podeis visitar,
nem sequer em sonhos.

Podeis esforçar-vos por ser como eles;
mas não tenteis fazê-los como vós.
Porque a vida não vai para trás,
nem se detém com o ontem.

Sois os arcos e os vossos filhos
as setas vivas projectadas.

O Arqueiro vê o alvo no caminho do infinito,
e retesa-vos com o seu poder
para que as setas
possam voar depressa para longe.

Que a vossa tensão na mão do Arqueiro
seja de alegria.

Porque assim como Ele gosta
da seta que voa,
também gosta do arco que fica.
Khalil Gibran, O Profeta.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Défice cognitivo

«Desenvolver as pessoas com deficiência mental é tocar-lhes o espírito, é tocar-lhes a essência indestrutível, ou seja a própria alma, apesar do cérebro lesionado. É levar cada pessoa com deficiência mental a expressar o seu mundo interior onde existe a bondade, a beleza e a verdade».

(Alcione Scarpin, “Revista Sonhar”, APPACDM de Braga 1997)

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«Quando levantamos o nosso braço para alimentar alguém, incapaz de o fazer por si próprio, trata-se de uma tarefa sublime de preservação da Vida».

(Alcione Scarpin)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Auto-conhecimento


Quando se diz que a chave da mudança está dentro de cada um , muitas pessoas ficam sem compreender a profundidade dessas palavras, porque o ser humano, regra geral, tem pouco contacto consigo próprio. Por isso, o “conhece-te a ti mesmo” do filósofo grego Sócrates continua actual. Através do auto-conhecimento a pessoa vai desenvolver as suas capacidades e compreender melhor o funcionamento do Mundo. Podemos dizer que todo processo de auto-conhecimento está ligado à libertação pois trata-se de uma tomada de consciência . A consciência é a nossa maior companheira; ela diferencia o ser humano dos outros animais na medida em que nos apercebemos de quem somos onde estamos, o que fazemos etc... Mas o fenómeno da consciência é mais abrangente e diferencia os seres humanos entre si. Quantas pessoas passam pela Vida sem alcançar um instante de serenidade, sem sentir a pulsação que emana todos os dias da força própria do Universo. A minha proposta vai no sentido da reflexão, do estudo e do diálogo. É possível olhar cada manhã com um novo entusiasmo e libertar-se das garras da ignorância…

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Receita da Alegria

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terça-feira, 25 de novembro de 2008

O Último Discurso


O Grande Ditador (Charlie Chaplin).

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Razão de ser



“Uma mesa com lugar para todos”

«Olhando à escala global, se não formos capazes de construir um Mundo que tenha lugar à mesa para todos, não teremos-nem merecemos-futuro. Inexoravelmente, numa questão de tempo, estaremos à beira do precipício, empurrados pela injustiça e sofrimento humanos dos que não têm lugar à nossa mesa. Por mais que pareça, ter lugar para todos na mesa não é uma tarefa impossível. A Natureza e o génio humano são capazes de gerar e de gerir o necessário para que todos tenham o suficiente. Para tornar o Mundo uma mesa para todos, as migrações são essenciais e naturais. São o mecanismo mais próximo e eficaz de repartir a riqueza e de criar vasos comunicantes. São o despertador das nossas consciências e as batidas à porta da nossa indiferença. São o apelo à generosidade sem saírmos de casa. É o dar e ainda receber mais. É multiplicar dividindo. Por isso, saber abrir a nossa mesa ao outros, que nos procuram em busca do seu futuro, é participar activamente nesse movimento universal de fazer do Mundo um destino comum e partilhado. Assim , cada um com o seu contributo, à mesma mesa, chegaremos a construir um futuro de todos e para todos. Com os mais iguais e os mais diferentes. Mas sempre com o direito universal de estar à mesa. E sempre com o dever de convidar todos para a mesa.»

Do livro “ UMA MESA COM LUGAR PARA TODOS “ de Rui Marques (Instituto Pe. António Vieira).

sábado, 22 de novembro de 2008

OS SONHOS

“Do ponto de vista psicológico todos os sonhos são bons, mesmo aqueles cujos conteúdos pareçam incoerentes ou mesmo assustadores. Mas, enquanto o sono é reparador para o organismo, o sonho exerce um papel reparador para a vida psíquica, favorece as funções mentais, ajudando a decifrar enigmas e mesmo a encontrar soluções para as mais diversas questões”

S.Freud, in A Interpretação dos Sonhos.

MEMÓRIAS


E à tarde
Os soldados voltavam,
Traziam feridas
E balas a menos.
Traziam memórias
de sonhos traídos,
Traziam fadigas
De corpos caídos.

Nos sacos e rostos
Traziam o regresso,
Traziam memórias.

Soldados sem armas
Voltavam em transe,
Não eram os mesmos.

Do livro “O Sangue da Guerra” de Manuel Geraldo

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A Alegria


“Solta a alegria! Que fique desatada!
Esquece a ânsia que rói o coração,
Tanta doença foi assim curada.
A vida é uma presa, vai-te a ela,
Pois é bem curta a sua duração…”

Do livro “Al Mutamid, O Poeta do Destino” de Adalberto Alves.


Al Mutamid, considerado o maior poeta do seu tempo no Al Andaluz, nasceu em Beja no ano de 1040. Os versos acima traduzem perfeitamente a importância da alegria para a saúde física e mental do ser humano, considerando a Vida como um desafio constante e sempre renovado às nossas potencialidades. Uma pessoa alegre pode alterar o estado de espírito de muita gente, pode criar bom ambiente em casa, no trabalho ou na vida social. A própria Natureza parece sorrir no chilrear dos pássaros, no canto das aves, no marulhar das águas, nas brincadeiras entre os animais. Se, na criança, a alegria é uma emoção quase sempre presente, no adulto, pode estar reprimida de tal forma que a vida torna-se um verdadeiro fardo, trazendo consigo doenças e dificuldades de toda ordem. As experiências boas que vivenciamos todos os dias, criam em nós um escudo invísivel que nos protege e nos conforta nas vicissitudes da vida.
A alegria é um lenitivo para a alma e um bálsamo para as feridas do coração pois retempera as forças e dá nova vida ao Ser que a cultiva.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Crianças com Necessidades Educativas Especiais




Em tempo de Escola Inclusiva todas as crianças em idade escolar vão para as Escolas Públicas ou Externatos, porém, algumas delas precisam de apoio mais individualizado para aprender.
Há uma diferença entre o saber fazer e o poder fazer.
Um bebé de seis meses não sabe andar. Um adulto com paralisia dos membros inferiores não pode andar. Para o fazer, necessita de uma cadeira de rodas.
Uma pessoa cega não pode ler com os olhos mas o faz através do tacto, pelo método braille.
Já a criança portadora de deficiência auditiva, para se comunicar vai inicialmente aprender a linguagem gestual, que tornará possível a aquisição da leitura e escrita, contribuindo de forma decisiva para sua autonomia.
No campo da deficiência mental, tudo se torna mais complicado porque um comprometimento neurológico ou cerebral poderá atingir várias funções cognitivas ao mesmo tempo. Entretanto, não podemos afirmar que a pessoa não é inteligente. Ela não pode manifestar a sua inteligência.
Nós devemos conversar muito com as crianças portadoras de défice cognitivo, mesmo que aparentemente elas não nos compreendam. A leitura diária de estórias é essencial para a aquisição de vocabulário. Ao porcionar-lhes diferentes actividades, sejam académicas, recreativas, artísticas ou culturais, contribuímos para alimentar-lhes o espírito e ajudá-las a interagir com o meio ambiente.
Assim como há seres humanos que, embora portadores de um cérebro normal, permanecem enclausurados na ignorância e cegueira internas, as pessoas com défice cognitivo são espíritos prisioneiros pois, as lesões cerebrais de que são portadores, impedem a recepção e transmissão das informações. Desde que tive tal percepção, procuro ajudá-los a se libertar…
Para enriquecer a vida interna das pessoas com necessidades educativas especiais desenvolvi uma abordagem inovadora no campo da reabilitação através de psicoterapia individual ou de grupo. A intervenção a nível individual pode acontecer numa sala, com o suporte (ou não) do divã, ao ar livre, ou ao telefone.Para se activar a comunicação podemos recorrer ao apoio de figuras, fotos ou jogos.
Os passeios terapêuticos são uma realidade no meu trabalho diário e muito bem aceite por pessoas com patologias diversas. Na minha actuação enquanto psicóloga há um fio condutor que me orienta: estimular a auto-estima.
Já nos grupos formados por 10 a 15 elementos, o fundamental da dinâmica das reuniões é o diálogo. A pessoa vai se comunicar como pode, através de um olhar, de sons não identificados, sinais, mímica, expressão corporal, palavras soltas, frases etc…Todos são, em primeiro lugar, seres humanos e qualquer tentativa de comunicação é sempre bem vinda.
A comunicação com o meio exterior, o ver-se compreendido, às vezes, após anos consecutivos de isolamento, é um factor altamente tranquilizante e reconfortante para a pessoa com défice cognitivo. Como terapeuta tenho verificado que mesmo pessoas com grave limitação intelectual conseguem captar interpretações profundas sobre a personalidade e se acalmam imediatamente. Isto demonstra que a capacidade de compreensão destas pessoas está muito além das nossas avaliações e, neste campo em particular, ainda temos muito que aprender.

sábado, 15 de novembro de 2008

CRIATIVIDADE

Por vezes somos levados a considerar a criatividade como um privilégio das pessoas ligadas ao campo da música, dança, pintura, escultura, cinema, literatura, poesia, moda etc..., por serem essas áreas de manifestação que estão mais presentes no nosso dia-a-dia através dos meios de comunicação social.
Hoje vamos falar da veia criativa que existe em todos nós, embora a grande maioria dos seres humanos aparentemente passe toda uma vida sem um único rasgo de imaginação criadora. O nosso espírito inventivo pode ser activado se lhe dermos mais atenção, procurando alterar um pouco as nossas rotinas, e com alguma persistência poderemos descobrir coisas verdadeiramente espantosas. A cozinheira que altera a receita a seu gosto está a dar margem à sua imaginação.
O Homem é o animal racional com capacidade de conscientemente transformar o espaço à sua volta, criar instrumentos, aparelhos e ferramentas que facilitam o trabalho, a comunicação e a deslocação ou que proporcionam lazer e entretenimento.
Algumas pessoas são capazes de criar, imaginar e trazer para a realidade coisas que simplesmente não existiam aos nossos olhos; outras conseguem aperfeiçoar, adaptar ou mesmo comercializar de uma forma inovadora os inventos criados por terceiros.
Grande parte dos inventores tiveram brilhantes intuições à partir da observação da natureza, outros fizeram importantes descobertas por mero acaso. Quantas vezes, são as adversidades que activam a busca por novas soluções em forma de medicamentos , máquinas ou estratégias de acção. Com as minhas crónicas quero incentivar o espírito criativo e inovador que de certa forma é bastante presente na cultura portuguesa. O “jogo de cintura” do brasileiro é com certeza, herança dos portugueses.
Em contacto com jovens estudantes verifico o enorme interesse que têm por actividades que os façam pensar, criar, e inventar... Essa disponibilidade natural pelo novo, nesta etapa da vida, não deve ser desperdiçada mas sim vista como uma mola propulsora do progresso cultural, social e mesmo económico da sociedade.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

SINERGIA (A riqueza da diferença)

Quando os esforços se complementam, os resultados são visivelmente maiores que a soma das partes. É comum em Sociedade as pessoas se juntarem em grupos religiosos, políticos, sociais, profissionais, desportivos ou culturais. Quando surgem as diferenças, a tendência é haver cisões. O ser humano, regra geral, sente-se seguro na igualdade e instável na diferença.
Talvez por este motivo de ordem psicológica, as pessoas procurem seguir as tendências ditadas pela moda seja no vestuário, na literatura, no lazer…
Algumas necessidades são mesmo criadas e incutidas nos cérebros de tal forma que as pessoas entram em angústia, depressão e outros problemas de origem emocional se não conseguem ter uma determinada marca de carro, telemóvel ou computador.
Ao longo da história da Humanidade encontramos exemplos sem conta de pessoas que foram menosprezadas, ignoradas, perseguidas, maltratadas, humilhadas e mortas até, por pensar, viver ou agir de forma diferente da maioria.
Pensemos um pouco como seres em constante evolução , onde estaríamos nós, se houvesse a coragem de considerar o novo como possibilidade e agente de mudança?
Embora na essência sejamos todos iguais enquanto seres humanos, a nossa existência é marcada por acentuadas diferenças quanto à nossa formação de base ou a cultura onde nascemos. Tais pressupostos podem alterar e muito a nossa visão dos acontecimentos e situações que se nos apresentam todos os dias.
Saber ouvir, observar, dar voz, fazer eco das palavras pode ajudar a encontrar soluções em campo estéril, luz na escuridão…
A sinergia é a optimização do potencial produtivo de pessoas , agrupamentos ou sistemas de trabalho. Por isso, hoje a multidisciplinaridade assume um papel preponderante na avaliação e intervenção comunitária.
O desenvolvimento humano e social já não se compadece com propostas únicas e redutoras quando consideradas fora do contexto da realidade.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

"Compreender torna-nos indulgentes"


«Selon la psycanalyse classique, nous jugeons plus sévèrement les auteurs d'actions immorales si nous sommes tentés de les commettre. C'est une façon de nous punir, par procuration, de nos désirs interdits. Une expérience menée par Mario Gollwitzer, psychologue à l'université de Coblence-Landau, en Allemagne, semble indiquer le contraire. Près de trois cents personnes se sont vu proposer des scénarios d'actes transgressifs - voler un vêtement dans un magasin, resquiller dans le métro, faire travailler un plombier au noir... Tout d'abord, il leur a été demandé de décrire leur ressenti face à la possibilité de se livrer à ces conduites répréhensibles. Ensuite elles ont dû juger des individus ayant osé passer à l'acte. Et là, surprise! Loin d'être plus sévères avec ceux qui avaient réalisé leur plus cher désir interdit, les sujets de l'expérience - y compris les plus autoritaires ou enclins à l'autojugement négatif - ont à l'inverse été plus coulants avec eux: se reconnaissant et s'étant senti en empathie avec ces "coupables", ils ont saisi leurs motivations. La possibilité de comprendre nous aiderait donc à être moins intransigeant. Mais encore faut-il accepter de comprendre. Précisons que les participants avaient été préparés psychologiquement à se montrer indulgents dans leurs jugements.» I.T.
in Psychologies Magazine, nº 279 (Novembro 2008)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Vida Psicológica

«Torna-se evidente, cada vez com mais acuidade, que nem a fome, nem os tremores de terra, nem os micróbios, nem o cancro, mas, pura e simplesmente o homem constitui o maior dos perigos para o próprio homem. A razão é simples: não há ainda nenhuma protecção eficaz contra as doenças psíquicas. Ora, estas são epidemias infinitamente mais destruidoras do que as piores castátrofes mundiais. O perigo supremo, que ameaça tanto o indivíduo como os povos nómadas no seu conjunto, é o perigo psíquico».
C. G. Jung, O Homem à descoberta da sua alma.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O que é o Amor?

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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Mistério da Intuição


Em contacto com estudantes estagiários e jovens recém-formados tenho vindo a constatar a rigidez e o formalismo dos currículos escolares e a própria dureza dos métodos de ensino, apesar de todo o avanço tecnológico. A intuição, definida como «a percepção clara e pronta da realidade» tem sido de certa maneira desvalorizada. «O homem é racional, a mulher é intuitiva»; e fica-se por aí... Felizmente, muitos estudiosos, cientistas e pensadores, não compartilham de um tal desprezo e tratam a nossa «amiga» Intuição com o respeito que ela merece. O cientista português António Damásio, autor de «O erro de Descartes» e «O Sentimento de Si», há vários anos a trabalhar nos Estados Unidos, refere-se à intuição como sendo «um misterioso mecanismo, através do qual chegamos à solução de um problema, sem o raciocínio». Também o psicólogo americano Jerome Seymour Bruner, no seu livro «O Processo da Educação», dá particular atenção ao desenvolvimento do pensamento intuitivo nas escolas, ao afirmar: «O caloroso louvor prodigalizado pelos cientistas aos seus colegas que merecem o rótulo de intuitivos, constitui a maior evidência de que a intuição é um bem valioso na Ciência e um bem que deveríamos empenhar-nos em fortalecer nos nossos alunos». A intuição está subjacente a um simples palpite, como por exemplo «já esperava encontrá-lo aqui»; um pressentimento, tal como «esse discurso soa-me a falso...»; às grandes criações literárias, teatrais, cinematográficaz, pictóricas, musicais, inventos e até mesmo nos «passes mágicos» de um futebolista. A intuição pode emergir de um processo de busca ou ser a «chave» para uma investigação genial. Para Jerome Bruner «o pensamento intuitivo gera hipóteses rapidamente e atinge combinações de ideias antes que se conheça o seu valor. Parece que os indivíduos que possuem uma extensa familiaridade com determinado assunto, chegam com mais frequência, intuitivamente, a uma decisão ou à solução de um problema». Familiaridade implica, contudo, mais do que conhecimento académico. Para haver familiaridade é necessário existir paixão, ou seja, uma dedicação extrema, uma entrega total a um objecto de estudo, a uma causa, a uma arte ou a uma investigação.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Amor filial

REGRESSO AO LAR

Ai, há quantos anos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?...há trinta? Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para eu me lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à Vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!...

Como antigamente, no regaço amado,
(Venho morto, morto!...) deixa-me deitar!
Ai, o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...
(Guerra Junqueiro)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Individualização


Para o psicanalista C. G. Jung, nascido na Suiça em 1875, todas as pessoas passam por um processo de individualização; entretanto, as que têm consciência do mesmo podem considerar-se afortunadas. Por individualidade entende-se a nossa singularidade última, incomparável, que faz de cada habitante do Planeta, um SER ÚNICO. Na harmonia da Natureza, cada vegetal ou mineral, cada animal tem a sua função, a sua utilidade. Como no dizer do famoso químico francês Lavoisier: "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma..."A consciência da própria identidade coloca o ser humano numa comunhão indissolúvel com o Mundo, numa sintonia de funcionamento e criatividade. O mais interessante neste crescer constante é que, para se tornar único e fazer brilhar a sua singularidade, o Homem precisa de todos os outros: familiares, amigos ou desconhecidos e mesmo daqueles que já não vivem. Ninguem é auto- suficiente, de forma que nos completamos, nos consolamos e nos ajudamos mutuamente e assim crescemos todos os dias como indivíduos e como grupo. Muitas vezes ponho-me a pensar nessa aventura maravilhosa que é viver e compreender o mecanismo da existência. Olhar o mundo com os "olhos de ver" e descobrir sempre mais. A paz que tanto almejamos começa no nosso íntimo, contagia o nosso semelhante e transforma o ambiente em que vivemos. Podemos decidir agora, por vivências de trabalho e realização ou por permanecer numa atitude de cristalização de "vícios" psicológicos, a fomentar guerras e conflitos. Com esta crónica venho saudar todos os meus leitores e desejar que a felicidade seja sempre a meta de cada um em particular e de todos em geral...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A "Aculturação" dos Filhos



É mais do que legítima a aspiração dos pais desejarem o melhor do mundo para os seus filhos; mas como as crianças são, por norma, influenciadas por aquilo que vêem fazer em casa, se nesse espaço iniciático não existirem hábitos de leitura, dificilmente eles trilharão esse caminho no futuro. Há pais que se esforçam até ao limite das suas capacidades económicas para que os seus filhos tirem um curso superior, só que muito raramente levam um jornal ou um livro para casa, não frequentam museus ou bibliotecas com a família e quando sintonizam a televisão é para visionarem somente programas desportivos ou de puro entretenimento, alguns deles de péssima qualidade. Muitas das crianças e adolescentes, com problemas de aprendizagem nas escolas e notas de baixo nível, cujos pais os trazem para as minhas consultas de psicoterapia, confessam que em suas casas não são motivados para a leitura, que estudam muito pouco, sendo de concluir que essa desmotivação está quase sempre directamente ligada ao desinteresse cultural dos seus progenitores, a quem nunca viram empenhados em aumentar os seus próprios conhecimentos. Um curso superior não se consegue apenas por um «passe de mágica», ou seja porque os pais que já alcançaram uma certa estabilidde económica desejam atingir através dos filhos a concretização de um sonho que ambicionavam para si, e que jamais realizaram, devido a múltiplos factores. Porque para que esse curso aconteça, não basta o dinheiro que se investe na escola estatal, ou, então, por facilitismo, no colégio particular ou na universidade privada, sendo necessário que os pais se esforcem por desenvolver os seus hábitos de leitura e a sua cultura geral, de forma a estarem preparados para acompanhar os filhos ao longo do seu percurso académico. Pois caso contrário, essas crianças dificilmente atingirão a tão sonhada licenciatura, ao serem educadas num ambiente «aculturado», sem ideias nem motivação.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Serenidade

O Amor



O amor é o sentimento por excelência e está na base de toda estrutura psicológica saudável. Amar-se a si mesmo é a principal necessidade do ser humano e amar ao próximo é a consequência directa dessa atitude. Para abordar algumas questões ligadas a este tema recorro ao conceituado psicanalista alemão, naturalizado americano, Erich Fromm, autor do livro "A Arte de Amar". O autor nos alerta para este facto: «o amor não é um sentimento a que qualquer um possa se entregar, independentemente do seu grau de maturidade...é uma atitude, uma orientação do carácter, que determina a relação de uma pessoa com o mundo em geral e não apenas com o "objecto" do amor...» O primeiro aspecto a considerar nessa matéria é que o amor próprio (auto-estima) é o ponto de partida para viver outras fomas de amor. Só dá Amor aquele que o possui. Para amar o próximo é preciso amar-se a si mesmo. O Amor é uma energia que se expande na medida em que é vivido na forma de dar e receber. Assim como as actividades físicas e intelectuais são passíveis de treino para se desenvolver, a actividade afectiva do ser humano pode e deve ser exercitada para um crescimento harmonioso do Homem e da Sociedade. Uma pessoa que queira avançar em termos afectivos deve começar a olhar para si de maneira terna e carinhosa, cuidar do seu corpo que é a morada da sua alma. A sua casa deve ser limpa e bem cuidada para sentir-se bem, dentro dela. Para se amar a si mesma uma pessoa deve trabalhar muito mas também proporcionar-se momentos de lazer e de crescimento cultural e espiritual. Erich Fromm fala-nos de diversas formas de amor: filial, materno, paterno, romântico, erótico, fraterno, religioso ,místico, etc... São várias dimensões e expressões do mesmo Amor que emana do interior de cada ser humano. Por isso é preciso fazer silêncio para escutar a voz que vem de dentro do coração. Com esses cuidados você vai tornar-se uma pessoa melhor, pois enquanto as emoções negativas aprisionam e fazem sofrer, o amor liberta, revigora e dá saúde porque é a fonte de sanidade.

Olhares



A cantora brasileira Maria Bethânia declama num dos seus discos o excerto de um poema muito bonito de Fernando Pessoa que diz assim: «Como as coisas são engraçadas/quando a gente as tem nas mãos/e olha devagar para elas». Quantas vezes você já olhou, terna e calmamente, para uma criança adolescente ou adulto deficiente mental?
Quantas vezes você já olhou para uma pessoa com deficiência sem pena, sem expectativas, só e tão somente para conhecê-la? Para auscultar-lhe o espírito, sem esperar nada dela; somente para comunicar com ela através do olhar? Olhar para as pessoas deficientes tem constituído grande parte do meu trabalho nos últimos anos. Na verdade, temos de ser muito persistentes e passarmos por muitas experiências frustrantes, se quisermos ter algum êxito numa tal missão. Mas, pensando bem, o que haverá no interior daquele cérebro danificado? Será que um cérebro danificado, um sistema nervoso comprometido é suficiente para destruir o espírito do homem ou mulher? Digo-vos que não. Certamente que não. Através do olhar, de um olhar profundo de amor podemos ultrapassar as barreiras neurológicas e orgânicas que separam a pessoa deficiente mental do nosso mundo de pessoas ditas "normais". Foi sempre através de um olhar calmo e prolongado que fiz muitas descobertas sobre o mundo interior do deficiente mental e sobre as minhas próprias deficiências. Foi através do olhar que descobri lucidez, mesmo em pessoas portadoras de deficiência mental profunda. Não encontro palavras que consigam descrever a minha alegria em detectar naqueles corpos afectados, uma réstia de luz, de ternura, de afecto, de vida e mesmo de tristeza por tantos e tantos anos de isolamento e de solidão.eu tenho-os olhado, incansavelmente, à procura deles mesmos, como uma jóia preciosa que vale a pena conhecer e convido-vos a todos vocês, leitores amigos, que me acompanham neste trabalho de descoberta, de múltiplos olhares, não só de pessoas deficientes, mas de todas as pessoas, cujas vidas e os seus problemas, constituem a principal razão de ser, e de existir, deste blogue. Pois como canta a Amélia Muge numa das suas mais belas canções: «Todos os dias nasce uma pessoa». E só por isso vale a pena viver e lutar!...

Psicoterapia

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