quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O Mistério da Intuição


Em contacto com estudantes estagiários e jovens recém-formados tenho vindo a constatar a rigidez e o formalismo dos currículos escolares e a própria dureza dos métodos de ensino, apesar de todo o avanço tecnológico. A intuição, definida como «a percepção clara e pronta da realidade» tem sido de certa maneira desvalorizada. «O homem é racional, a mulher é intuitiva»; e fica-se por aí... Felizmente, muitos estudiosos, cientistas e pensadores, não compartilham de um tal desprezo e tratam a nossa «amiga» Intuição com o respeito que ela merece. O cientista português António Damásio, autor de «O erro de Descartes» e «O Sentimento de Si», há vários anos a trabalhar nos Estados Unidos, refere-se à intuição como sendo «um misterioso mecanismo, através do qual chegamos à solução de um problema, sem o raciocínio». Também o psicólogo americano Jerome Seymour Bruner, no seu livro «O Processo da Educação», dá particular atenção ao desenvolvimento do pensamento intuitivo nas escolas, ao afirmar: «O caloroso louvor prodigalizado pelos cientistas aos seus colegas que merecem o rótulo de intuitivos, constitui a maior evidência de que a intuição é um bem valioso na Ciência e um bem que deveríamos empenhar-nos em fortalecer nos nossos alunos». A intuição está subjacente a um simples palpite, como por exemplo «já esperava encontrá-lo aqui»; um pressentimento, tal como «esse discurso soa-me a falso...»; às grandes criações literárias, teatrais, cinematográficaz, pictóricas, musicais, inventos e até mesmo nos «passes mágicos» de um futebolista. A intuição pode emergir de um processo de busca ou ser a «chave» para uma investigação genial. Para Jerome Bruner «o pensamento intuitivo gera hipóteses rapidamente e atinge combinações de ideias antes que se conheça o seu valor. Parece que os indivíduos que possuem uma extensa familiaridade com determinado assunto, chegam com mais frequência, intuitivamente, a uma decisão ou à solução de um problema». Familiaridade implica, contudo, mais do que conhecimento académico. Para haver familiaridade é necessário existir paixão, ou seja, uma dedicação extrema, uma entrega total a um objecto de estudo, a uma causa, a uma arte ou a uma investigação.

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