segunda-feira, 2 de março de 2009

Invisibilidade Pública

O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu um uniforme e trabalhou durante oito anos como "gari", varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são "seres invisíveis, sem nome". Na sua tese de mestrado, pela USP (Universidade de São Paulo) conseguiu comprovar a existência de uma invisibilidade pública; ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão do trabalho, onde se enxerga somente a função e não a pessoa.
Braga trabalhava só meio período como gari, não recebia o salário de 400 reais como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição da sua vida:
"_ Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência." Explica o pesquisador.
O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objecto e não como um ser humano:
_ "Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme . Às vezes esbarravam no meu ombro e, sem pedir desculpas, seguiam, ignorando-me como se se tivessem escostado a um poste."
_ E quando você volta para casa para o mundo real?
_ "Eu choro. É muito triste porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que esta experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, frequento as casas deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe."
Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida.

Plínio Delphino, in Diário de São Paulo

Sem comentários: